A política externa é, por definição, um campo que exige equilíbrio, pragmatismo e capacidade de negociação. Quando essa área estratégica se torna refém do radicalismo ideológico, as consequências podem ser severas – como foi o caso da taxação imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros.
Em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas adicionais sobre o aço (25%) e o alumínio (10%) importados de diversos países, incluindo o Brasil. Inicialmente, o governo brasileiro havia sido temporariamente isento da medida, mas posteriormente foi atingido pelas sanções, sob o argumento de proteger a indústria americana. Apesar da alegada preocupação econômica, a medida teve contornos claros de política externa baseada em interesses unilaterais, sem espaço para diálogo verdadeiro entre as nações.
Agora uma nova taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros. A carta do presidente dos EUA manifesta uma espécie de punição ao governo brasileiro pela sua postura ideológica contrária aos interesses dos Estados Unidos, especialmente à gestão Trump. Posicionamento do governo sobre questões geopolíticas não se traduzem em ganhos concretos para o Brasil. Pelo contrário, esse posicionamento não impediu que o país seja penalizado economicamente, expondo a fragilidade de uma política externa fundamentada mais em afinidades políticas do que em interesses estratégicos bem definidos.
Esse episódio revela uma lição importante: o posicionamento internacional do Brasil deve ser guiado por princípios de soberania, respeito mútuo e interesses nacionais, e não por ideologias momentâneas ou por afinidades pessoais entre líderes. O radicalismo ideológico, tanto à direita quanto à esquerda, tem o potencial de isolar o país no cenário global, prejudicando relações comerciais e diplomáticas essenciais para o desenvolvimento.
Posicionar-se não significa romper com quem pensa diferente, mas sim defender interesses com firmeza, sem perder a disposição para o diálogo. O verdadeiro radicalismo que se justifica é o do diálogo – aquele que insiste em ouvir, negociar e construir pontes, mesmo entre diferentes. Um governo que enxerga o mundo por lentes ideológicas estreitas corre o risco de ignorar oportunidades e de transformar aliados potenciais em adversários.
Em tempos de globalização e interdependência, o Brasil precisa de uma política externa madura, centrada em princípios e não em polarizações. O episódio da taxação americana contra produtos brasileiros mesmo diante de uma suposta amizade mostra que sem diálogo e pragmatismo, o país fica vulnerável.
É urgente que o Brasil retome o papel de protagonista global, com uma diplomacia aberta ao mundo, mas firme na defesa de seus interesses. O extremismo político deve ceder espaço a uma postura responsável e construtiva, que privilegie a diplomacia, a negociação e o respeito à diversidade de visões no cenário Internacional.
Ronaldo Nogueira de Oliveira
Deputado Federal
Ministro do Trabalho que realizou a modernização trabalhista e criou a carteira de trabalho digital.