O debate virtual tratou de inflação, endividamento das famílias, esforços do poder público e o futuro a partir da vacinação da população
A Secretaria de Economia promoveu, nesta quarta-feira (4), mais uma edição do debate virtual Tempo de Economia, que abordou os potenciais e os riscos da economia brasileira pós-pandemia de covid-19. O convidado foi Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos e especialista em inflação e política monetária. O secretário de Economia, André Clemente, mediou a conversa, que contou com a presença da secretária-executiva de Acompanhamento Econômico, Patrícia Café, e foi transmitida pelo canal da pasta no YouTube.
O panorama traçado por Étore Sanchez abordou a situação atual, com os dados de 2020 e 2021, e a projeção para 2022. O economista destacou que este ano, apesar do reaquecimento das atividades econômicas, ainda é impactado pela pandemia, com alta na inflação, que castiga as famílias. Realidade essa que, segundo ele, deve ceder no ano que vem, com intervenções do Banco Central, principalmente na taxa de juros.
Para o futuro próximo, ele vê uma grande dificuldade para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), para a queda do desemprego e também para a valorização do real frente ao dólar. “Isso se dá por uma atividade fraca, por conta de um PIB que não cresce, de um crédito que chegou à sua estafa”, explica Étore, que lembra que os gastos do governo também devem diminuir.
O crescimento do PIB de 2021 está previsto em 4,5%, depois de uma queda de 4,2% no ano passado. Étore, no entanto, destaca que o número se deve muito pelo chamado efeito base e não a uma arrancada produtiva. “Se produzíamos 100, passamos a produzir 50 e no ano seguinte produzirmos 75 nós crescemos 50%. Caímos 50% e crescemos 50%, mas o 100 de antes é diferente do 75 atual”, disse.
O endividamento das famílias e a contração do crédito são outros entraves a serem superados pelo Brasil a partir do ano que vem. “Em 2020, tivemos muitas famílias que infelizmente tiveram sua renda comprometida e utilizaram a modalidade crédito para sua sobrevivência, o que fez o endividamento subir e, consequentemente, retraiu a concessão de crédito este ano e ainda no próximo”, apontou.
Outro ponto de alerta levantado pelo economista é a reserva energética. Além da alta nos preços dos combustíveis, 2021 e 2022 são anos com indicação de poucas chuvas e, consequentemente, reservatórios pressionados. “Não chega a ser um entrave à economia, mas é algo que estamos monitorando”, completa.
O secretário de Economia, André Clemente, deu o olhar do poder público sobre o momento vivido pelo Brasil. Segundo ele, é importante analisar os diferentes cenários para a tomada de decisões. “Por mais que o cenário não seja aquele que nós desejamos, conhecendo é possível planejar a viagem, fazer os contornos e ajustes necessários”, destacou.
“Não podemos sucumbir às dificuldades e devemos avançar no nosso desenvolvimento, na criação de um ambiente econômico favorável ao investimento e à manutenção dos empregos”, enfatizou.
A secretária executiva Patrícia Café fez coro à necessidade desse intercâmbio com o setor econômico e as diferentes análises de momento. “Conhecendo os riscos que se colocam, que constituem desafios para a economia, nós do setor público temos mais condições de lidar melhor com as dificuldades”, disse ela.
Confiança
André Clemente lembrou os esforços do Governo do Distrito Federal no sentido de amenizar os efeitos socioeconômicos da pandemia. “Buscamos reduzir a burocracia, aumentar a competitividade das empresas e ajustar a carga tributária. Reduzindo a carga tributária, conseguimos aumentar a arrecadação em plena pandemia”, afirmou.
O Refis de 2020 foi lembrado como forma de recuperar a saúde financeira das empresas e famílias do Distrito Federal. Ao todo, a Secretaria de Economia negociou cerca de R$ 3,12 bilhões com pouco mais de 41 mil pessoas físicas e 11 mil pessoas jurídicas. “É o dobro da soma de todos os oito programas do tipo já realizados na história do Distrito Federal. Salvamos empresas e tivemos um aporte de recursos que vem sendo utilizado em obras e programas”, classificou o secretário de Economia.
Étore Sanchez elogiou as iniciativas promovidas pelo GDF. Para ele, confiança é a palavra que deve ditar o momento pós-pandemia no mundo todo. “Nós tínhamos duas pandemias, a evidente e a de confiança. É algo que mexe muito com a parte mental, com gatilhos de prazer que precisaram ser restritos. A vida mudou e tudo isso gera um pessimismo. Com o fim da pandemia é possível que a confiança seja restabelecida”, acredita.
Futuro
Com todo o pessimismo econômico traçado e as intensas ações do poder público para amenizar o impacto da pandemia, a dúvida que fica é se o Brasil tem jeito. Tanto André Clemente quanto Étore Sanchez acreditam que sim.
Para o economista da Ativa Investimentos, o ano que vem será de grande instabilidade, que pode ser seguido de um novo momento para a economia. “O que deveremos observar em 2022 é um grau de incerteza gigantesco associado à eleição, que vai fazer com que os investidores ajam com mais cautela em relação ao Brasil. Para nós, brasileiros, 2023 ainda é longo prazo”, destacou.
“A solução para o país é a produtividade. O Brasil deve reduzir a burocracia, aumentar a eficiência e promover reformas. O brasileiro é formado por grandes trabalhadores, de trabalho árduo, mas que muitas vezes precisa lutar contra a ineficiência e o excesso de burocracia”, propõe Étore.
Na mesma linha, o secretário André Clemente apontou que as ações do GDF na transformação da economia da capital, com a promoção da segurança jurídica, da justiça fiscal e da transparência na utilização dos recursos, vêm surtindo efeito. “O que mais incomoda o setor produtivo é a insegurança jurídica, a burocracia e a carga tributária. Temos acompanhado constantemente essas áreas, promovendo o diálogo, mostrando o investimento feito e, consequentemente, temos percebido uma grande confiança nas ações do governo”, revela.
O avanço da vacinação da população brasileira, por sinal, já dá indícios de um reaquecimento. “A vacinação vem deixando o número de óbitos em um patamar mais baixo no Brasil e, muito em breve, a circulação de pessoas deve ser normalizada, apesar de novas variantes colocarem esse esforço em risco”, projetou Étore.
*Com informações da Secretaria da Economia